LUTO
Ontem morreu meu cachorro, o cão que chupava manga, Ladinho. 

Ele já estava bastante velho ( quase doze anos), ceguinho, sem nenhum mísero dente na boca, rabugento... Enfim, a morte dele seguiu apenas o fluxo natural das coisas. 
Mas mesmo assim é impossível não ficar triste. 
Ele foi pego por nós na rua em 1999, quando eu tinha só nove anos. Era carnaval e eu tinha ido com meus pais comer fora. Quando passamos em frente a um terreno baldio, havia um cachorrinho amarelo, filhote, olhando fixamente para o horizonte. Brincamos com ele e seguimos nosso caminho. Ao voltar para casa, passando pelo mesmo terreno, lá estava ele... ainda olhando para a mesma direção, como se não houvesse trocado de posição. Ficamos com pena e imploramos aos nosso pais para levá-lo conosco sob promessas de limpar qualquer sujeira que ele fizesse (e meus pais acreditaram ¬¬).  O levamos para casa e desse dia em diante, ele passou a fazer parte de nossas vidas.
Aos vinte um anos é difícil lembrar de alguma cena da minha vida em que ele não fosse figurante. Ele estava sempre lá, latindo para conhecidos e desconhecidos, enchendo o saco de todo mundo, arrastando correntes, sacudinho aquele meio-rabo, avisando quando meu pai estava chegando... Mais da metade da minha vida esteve comigo esse velho amigo. Ele já era parte da família.
Nei sei quantas mordidas levei daquela boca desdentada, quantas vezes tivemos que tirar ele de brigas ( ele não tinha dentes mas era muito MACHO), quantas vezes tivemos que checar se ele estava vivo ainda depois de uma salva de fogos em dias de comemoração (ele morria de medo de fogos).

É triste ver a casa dele vazia agora. Falta um pedacinho (rabugento e inconveniente) da minha família agora.

Onde ele estiver, espero que esteja bem (para onde será que vão os cães?). Ele foi amigo fiel.

Ladinho
* Algum dia distante de 1999
+ 27 de maio de 2011